o método crítico consiste em esquadrinhar e ampliar particularidades pertinentes à obra que se pretende artística. nisto os aspectos semiológicos de ordem variada (estruturais, estéticos, históricos, filosóficos, lingüísticos, estilísticos, exegéticos e mais) são apontados e comparados, medidos e qualificados de acordo com um determinado modo operatório da palavra sobre o artístico.
aí temos um pequeno problema a ressaltar, pois a obra que se pretende artística só nasce enquanto arte quando insta o olhar sobre si mesma, quando faz manifestar numa alteridade o ímpeto em interpretá-la e inaugurá-la esteticamente. antes disso o objeto artístico é somente trabalho pronto, às vezes nem isso.
a crítica elogiosa, mesmo que tente dignamente regimentar o maior número de capitulações possíveis acerca do objeto, já está embutida e abotoada à obra, de forma que as articulações que dela emerjam não possam ser consideradas propriamente críticas. pode-se dizer até que uma crítica desta natureza faça somente o ornamento da obra em questão, entendida já de saída, e sem qualquer debruçamento por parte do crítico, como "trabalho de arte".
a conseqüência pior, nos termos do modo crítico empenhado, é a mera utilização do pormenor estético, e só dele, para inventariar toda a gama correspondente aos outros aspectos pertinentes à verdadeira crítica.
daí a crítica elogiosa não poder jamais ser considerada um modelo consistente e confiável de articulação. o crítico de arte, ou aquele que se pretende crítico, perde seu precioso emprego literário com o olhar arbitrariamente contemplativo, estando enfiado pelos pés no fenômeno relacional artístico.
alguns poderiam dizer que o elogio da crítica seria uma outra espécie de objeto artístico, um outro tipo de obra de arte. eu, contudo, não diria tal coisa, pois ao nos lançarmos sintaticamente sobre qualquer obra, artística ou não, o objeto passa a ser tratado com dada organização, com tanto comércio e pulso, que não mais se mantém controlado ou controlável, passando também a ser introduzido em outro ambiente, não mais o original, mas um novo, com o qual o artísta talvez nem mantivesse contato anterior.
poderia ainda afirmar que a crítica elogiosa não se pretende nada para além de mera cópia da obra olhada. o belicismo registrado em tais intenções, que trabalham quase sempre no nível da "intimidade privilegiada" com a obra de arte, circunda mecanismos rasos de introspecção, tal qual exercícios de auto-análise ou confissões do foro íntimo. constituem mais o falseio e o desejo do suposto crítico em marcar na lábia o labor daquele que se propõe verdadeiramente a lançar óbito de outros prazeres para beneficiar a arte.
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