terça-feira, outubro 24, 2006

olha... só sei que ontem foi foda. toda a organização do dia foi pelos ares e, no fim, postei uma puta mensagem que falhou na hora de mandar. e eu tô puto também.

eu queria escrever alguma coisa para a mulher que amo atualmente, a mulher a quem já devo tanto pelo bem que me fez e a quem tenho dado tão pouca atenção ultimamente. nós sabemos, eu e ela, que ela precisa e merece muito mais do que tem obtido de mim nestas semanas. ontem poderia ser o momento adequado para me apressar em consertar as coisas, mas não foi o que aconteceu.

minha ex-mulher, a segunda em um período de seis anos, surgiu em minha casa repentinamente, afobadíssima, no início da manhã. o caso era realmente para correria: nosso filhinho de três anos precisava de atendimento médico urgente. ele apresentava novamente os sintomas de uma patologia que havia sido tratada a pouco tempo, pegando a todos nós de surpresa. dali em diante ficamos percorrendo ambulatórios públicos, escritórios de convênios, consultórios particulares, para finalmente terminarmos o dia em uma sala de raio-x, onde tudo pareceu se normalizar.

durante o dia, entre uma parada e outra, eu escrevia umas linhas do que me vinha à cabeça. nada que fosse tão pauleira quanto a própria ocasião, mas certamente afetada por ela. digamos que eu tenha sentido uma leve necessidade de fuga (ou de prazer também, por quê não?) diante da adversidade.

- a liberdade e o amor são indivisíveis, atômicos, embora suas naturezas não se confundam entre si. acredito que devamos nos habituar à idéia de que ambos são raros e estão atrelados à novidade. ninguém minimamente saudável ama o passado ao preço de renegar o próprio futuro, assim como se crê que o melhor ainda está por vir.

corre-se o risco de ser pedante ou ignorante ao falar sobre amor ou liberdade, ainda mais hoje em dia, numa época em que conceitualizar as coisas ficou completamente fora de moda. mas agora não me importo.

a vontade de estar agarrado à pessoa amada é um exercício de desmistificação do outro, um processo que avança independentemente da vontade daquele que ama. no fim, o que ama é quem pode vir a encontrar alguma autonomia, a chamada liberdade crítica, frente ao objeto amado.

às vezes falta-nos maturidade para percebermos isto e frequentemente misturamos a mesma sensação com o sentimento de desamor. perdemos parte do processo.

essa é uma das lições que Simone Weil apresentou nos ensaios de "Opressão e Liberdade", nos quais ela traça uma fina comparação entre a experiência amorosa particular e a resistência contra grandes instituições totalitárias, entre as quais o capitalismo liberal.

à moda da casa: a lutas contra o ciúme e contra a injustiça social são as mesmas, suas causas são as mesmas. o ciúme ataca não a liberdade do outro, mas a sua própria à medida que a relação com o outro amado se transforma numa mescla de servilidade e despotismo. -

é claro que havia escrito estas coisas antes do dia acabar. e nem tudo que foi despejado é novo e fresco (automático, como queriam os surrealistas e os beats), existiam coisas bem ruminantes, praticamente já escritas na minha cabeça, apesar do arremate não me seduzir. faltou vocabulário... faltou atender ao rítmo do texto, fragmentá-lo com argumentos e, daí sim, acomodá-lo.

saída pela esquerda, Bionicão! (é... eu sou trintão, Geraldão...) de tudo isso e mais um pouco só sei que meu filho é a pessoa mais importante para mim, e não haveria de ser diferente. ontem à noite lembrei-me dos momentos que me fizeram ficar apaixonado por ele: de quando o vi pela primeira vez no berçário da maternidade, do medo que senti quando o peguei tão pequenino, e semanas depois, quando me senti finalmente humano, ao assistí-lo mastigar suas primeiras papinhas de frutas... essas coisas que jamais imaginei existirem antes, que poderiam ser até sufocantes não fosse a superação do meu temor, me fizeram reconhecer que a natureza no homem é maior do que tudo, maior do que a própria humanidade, e que ter um filho é dar vazão à responsabilidade do homem em fazer continuar o melhor da humanidade na natureza.

no meu caso, transmitir esta condição ao menos para o meu pequenino e, se possível, estendê-lo a mulher que amo. são realizações possíveis e são as coisas que ficam na vida.

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