terça-feira, outubro 17, 2006

meu coração bate por Lupitas tímidas e tenho várias delas enfileiradas na moldura do meu espelho, em casa. aquelas fotografias de cards dos RBDs chegaram às minhas mãos porcausa da criançada no trabalho. coqueluche pré-adolescente.

certa vez me perguntaram se aquilo era bom pra garotada. queriam minha opinião técnica. só pude responder que não havia juventude mais reacionária do que a dos Rebeldes. mentira, há sim, mas só falei aquilo pra ser esperto e desviar o assunto.

mas o que tange é que me apaixonei pela Guadalupita, a moreninha que quase nunca aparece na novelinha, e passei a colecionar as cartinhas de figuras, só dela. barganhei várias, furtei outras, todas das alicinhas de onze anos, fácil: "te dou um pacotinho fechado por essa Lupita" ou "confiscado por bagunçar demais no recreio"; em outros casos coagia as pequenas: "dá-me essa Lupita, já que não gosta dela". ou simplesmente passava a mão leve. tudo razoável.

obtive um discreto sucesso com o estratagema, colecionando ao todo 40 figurinhas da Maitê, a atriz que encarna a personagem da minha obsessão erótica. e estou satisfeito, satisfeitíssimo. o resultado também ficou muito bom: uma fileira horizontal de Lupitas no espelho locado acima do encosto da cama, junto à parede. devo dizer que a sensação de conforto foi verdadeiramente agradável.

não preciso legitimar a coisa com argumentos para sentí-la assim, aprazível, mas é uma questão de simples prazer que o faça: descrevê-la.

pode-se começar a fazer isso pelo conceito que a novelinha desenvolve, aproveitando a capacidade mexicana para dramatizar eventos muito simples, somadas ao conjunto sensual dos novos mangás for export. teremos lá um desfile de beldades masculinas e femininas em trajes escolares típicos europeus, amarfanhados e bonitinhos, beijando muito, trepando pouco (embora sugiram bastante), estudando e trabalhando menos ainda, cuidando das vidas uns dos outros como fossem vendedoras de boutique.

essa é a classificação conceitual e, nesse campo, qualquer menininha de tv pode povoar as necessidades eróticas de rapazinhos pré-concupiscentes.

mas o segundo ponto, o que quero abordar, é do da própria Lupita. um ponto muito mais pessoal. cada uma das meninas (e não são poucas) possui um fole específico de sedução. uma, por exemplo, é arrogante até o talo, o que atrai aos meninos submissos; outra é a sentimental, chamando para si os românticos; há uma que se acha feia e nunca está contente consigo mesma (e ela é a maior gostosa!), o que lhe garante a atenção daqueles que cumprem chegar nas mulheres com um grosseiro psicologismo, do tipo: "você tem coisas dentro de si muito especiais", "nas mulheres prefiro o charme" e "essa sua barriguinha é que me dá tesão".

a Lupita, por sua vez, é a que aparece pouco (e aí terei que declamá-la), daí o ineditismo. acho que ela atrai aos caras meio sufocados pelas mulheres, como eu... é sempre bom ter uma mulher que desaparece vez em quando, e aparece do mesmo jeito que partiu, de repente, porém sem alterar um pingo do seu estado emocional. é uma mulher nobre, que classifica o mundo em parâmetros não muito absolutos, nem tão obsoletos. uma mulher que parece dormir e acordar como tantas que conhecemos, normal, sem silicone ou coxas e bunda robustas, desprovida das feições de uma Zeta-Jones, por exemplo... a Lupita é uma pequena deusa em estado natural (pull-taqui-pariu!!, que brega) e ainda humana. a contradição é o espírito de um bom poema.

obviamente o cabelo liso e preto dela é composto à chapinha italiana, mas tudo bem. não nasci na Nova Zelândia, sou um cara normal também. certos prazeres femininos devem ser tolerados. e gosto de coisas normais. mais cinema que teatro, mais revista que jornal, mais pizza que fondue.

a empregada observou a fileira de Lupitas no espelho e acabou me pedindo uma, para a filha. saquei da gaveta do criado-mudo umas das repetidas e lhe dei, perguntando se era muito estranho que um homem barbado colecionasse aquelas figurinhas como qualquer adolescente. o negócio é que ela me respondeu de modo severo, contudo brilhante: "adolescente não brinca com mulher, ele só quer fazer aquilo que todo mundo sabe que ele quer com ela". e continuou: "seu problema é a moça que vem aqui ficar com você toda terça-feira e que não deve ser nada igual a menina da figurinha".

não sei se entendi bem o que ela queria dizer com "adolescente". não sei se ela se referia aos adolescentes de forma geral ou se ela disse abertamente que eu não cresci como devia. o fato foi que ela botou o dedo no meu tesão. e eu nem sabia que ela sabia da moça de terça... olhos de empregada.

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