segunda-feira, outubro 30, 2006

nesta última semana assisti a dois filmes que me destruíram esteticamente: 9 Canções e Irreversível. nada tenho contra novas experiências estéticas e sou muito menos preconceituoso com cinema do que com qualquer outro tipo de expressão artística, mas no que toca a estas duas películas em especial devo tecer algumas considerações.

a primeira delas é sobre a câmera que fica ligada o tempo todo, técnica que no meu modo de ver a coisa dá muito mais ênfase à ilha de edição do que ao set. a câmera ligada inadvertidamente, muitas vezes sem ensaio de enquadramento, de luz ou de diálogos faz com que o inesperado surja na medida da paixão dos atores, diminuindo gravemente o papel do diretor. tanto faz se o elenco for grande ou pequeno, a impressão que fica é a de uma rodagem feita em um final de semana. neste caso, Irreversível (para quem não sabe ou não viu, é o filme em que a personagem da Monica Bellucci é estuprada e quase morta em um túnel de metrô) parece a exacerbação deste elemento, pois o diretor - que também foi câmera e editor, o que não o guarda desta crítica - limpa o filme digitalmente, retirando elementos desagradáveis das cenas gravadas, como sombras de pessoas do backstage ou luzes chapadas dos cenários escolhidos minutos antes das gravações. além disso foram acrescentados digitalmente tantos outros detalhes quantos foram necessários para horrorizar o espectador (a cena da cabeça amassada a golpes de extintor, na minha modesta opinião, é desnecessária). enfim, trabalho de edição. o mérito do filme consiste apenas em apresentar-nos o drama de trás para frente, o que não é nenhuma novidade em termos cinematográficos.

a segunda consideração é sobre a filosofia de botequim costurada em ambas as películas. o pior é a clara inabilidade do diretor Winterborg, de 9 Canções, em querer mostrar algum domínio reflexivo no que diz respeito a casais viverem experiências claustrofóbicas e agorafóbicas na cama, repetindo incançavelmente a metáfora das geleiras na Antártida. convenhamos: um pé-de-chinelo no saco! ele poderia se ater basicamente às apresentações ao vivo das bandas, e seria bem melhor se assim o fizesse.

claro que achei Irreversível muito mais impactante do que 9 Canções, por uma série de motivos: é preciso muita crueldade para fazer uma cena de violência com a Monica Bellucci; os movimentos de câmera são muito mais arrojados e vertiginosos, daí a necessidade de curar as cenas digitalmente; o argumento é muito mais fatal e não beira a grosseria, como em 9 Canções, que por sua vez possui um argumento bastante simplório; e, por último, mundo-cão é mundo-cão, sem pseudosofia burguesa nem nada... quando tem que matar, mata-se, e só... a violência é plenamente justificada, sem gratuidade apesar de exagerada... sei lá, nunca namorei uma mulher que tivesse sido estuprada, daí não sei se faria o mesmo. só sei que não dá pra negar nossa porção animal depois de um ataque tão massivo à nossa integridade.

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