terça-feira, outubro 31, 2006

só pra constar, um balanço de final de mês: agora são 54 graciosas Lupitas no meu espelho. perdas e ganhos: instalei o mercado negro de RBDs no trabalho. capitalismo selvagem...

da coleção particular de epígrafes:

"As mulheres não apanham alfinetes. Dizem que isso corta o am."
James Joyce in Ulisses

"E a mulher - sim -, a mulher, em verdade, como é? Olha-nos, provocadora, convidativa... E quando a agarramos, mal a apertamos contra nós fecha logo os olhos. É o sinal da sua submissão. O sinal com que diz ao homem: 'Fica cego; eu estou cega!'"
Luigi Pirandello in Seis personagens à procura de um autor

segunda-feira, outubro 30, 2006

nesta última semana assisti a dois filmes que me destruíram esteticamente: 9 Canções e Irreversível. nada tenho contra novas experiências estéticas e sou muito menos preconceituoso com cinema do que com qualquer outro tipo de expressão artística, mas no que toca a estas duas películas em especial devo tecer algumas considerações.

a primeira delas é sobre a câmera que fica ligada o tempo todo, técnica que no meu modo de ver a coisa dá muito mais ênfase à ilha de edição do que ao set. a câmera ligada inadvertidamente, muitas vezes sem ensaio de enquadramento, de luz ou de diálogos faz com que o inesperado surja na medida da paixão dos atores, diminuindo gravemente o papel do diretor. tanto faz se o elenco for grande ou pequeno, a impressão que fica é a de uma rodagem feita em um final de semana. neste caso, Irreversível (para quem não sabe ou não viu, é o filme em que a personagem da Monica Bellucci é estuprada e quase morta em um túnel de metrô) parece a exacerbação deste elemento, pois o diretor - que também foi câmera e editor, o que não o guarda desta crítica - limpa o filme digitalmente, retirando elementos desagradáveis das cenas gravadas, como sombras de pessoas do backstage ou luzes chapadas dos cenários escolhidos minutos antes das gravações. além disso foram acrescentados digitalmente tantos outros detalhes quantos foram necessários para horrorizar o espectador (a cena da cabeça amassada a golpes de extintor, na minha modesta opinião, é desnecessária). enfim, trabalho de edição. o mérito do filme consiste apenas em apresentar-nos o drama de trás para frente, o que não é nenhuma novidade em termos cinematográficos.

a segunda consideração é sobre a filosofia de botequim costurada em ambas as películas. o pior é a clara inabilidade do diretor Winterborg, de 9 Canções, em querer mostrar algum domínio reflexivo no que diz respeito a casais viverem experiências claustrofóbicas e agorafóbicas na cama, repetindo incançavelmente a metáfora das geleiras na Antártida. convenhamos: um pé-de-chinelo no saco! ele poderia se ater basicamente às apresentações ao vivo das bandas, e seria bem melhor se assim o fizesse.

claro que achei Irreversível muito mais impactante do que 9 Canções, por uma série de motivos: é preciso muita crueldade para fazer uma cena de violência com a Monica Bellucci; os movimentos de câmera são muito mais arrojados e vertiginosos, daí a necessidade de curar as cenas digitalmente; o argumento é muito mais fatal e não beira a grosseria, como em 9 Canções, que por sua vez possui um argumento bastante simplório; e, por último, mundo-cão é mundo-cão, sem pseudosofia burguesa nem nada... quando tem que matar, mata-se, e só... a violência é plenamente justificada, sem gratuidade apesar de exagerada... sei lá, nunca namorei uma mulher que tivesse sido estuprada, daí não sei se faria o mesmo. só sei que não dá pra negar nossa porção animal depois de um ataque tão massivo à nossa integridade.

quarta-feira, outubro 25, 2006

segundo Saul Bellow, escritor americano e judeu, as mulheres possuem tantas e tão grandes carências que se um homem se preocupar em suprí-las certamente enlouquecerá.

daí pensei em fazer uma listinha que me ajudasse na escolha de mulheres menos problemáticas, que fossem companheiras, solidárias, gostosas, boas de cama e tudo o mais que me fosse agradável. é claro que as espectativas frente a uma mulher podem mudar da água para o vinho num minuto, o que fará mudar pontos da lista. eu mesmo já a alterei inúmeras vezes. por isso é de extrema importância manter-se fiel as prioridades do momento enquanto se estiver abordando uma determinada garota.

a listinha, a qual batizei de Good Fella, é simples, composta de 10 pontos que devem ser minuciosamente observados no contato com a fêmea em questão, e tem a finalidade de me manter precavido contra percalços com o sexo oposto.

logicamente cada um poderá desenvolver sua própria listinha Good Fella, desde que esteja de acordo com suas necessidades e prioridades. para começar prefira as mulheres que:

a) tenham pelo menos 1 filho - elas não quererão tê-los novamente com outro homem. neste caso, se ela estiver em fase de aleitamento já não vale, porque a fêmea não terá tempo pra mais nada além de amamentar.

b) já foram casadas - elas não alimentam mais qualquer esperança ou desejo de encontrar o príncipe encantado.

c) sejam mais velhas do que você - com certeza elas terão um instinto protetor mais desenvolvido, o que as farão gastar mais energia procurando preservar o homem delas da aproximação de rivais, ao invés de ficarem só preocupadas consigo mesmas nas rodas de boteco (eu tinha em mente algo sobre elas seduzirem seus amigos, mas isso é inevitável: acontece com todas, independentemente da idade).

d) bebam uísque - elas são mais divertidas e não ficam preocupadas se o homem delas está exagerando no álcool ou não.

e) gostam de ler - elas terão algum assunto interessante no meio de tanta bobagem que falam.

estas são as cinco principais características da mulher moderna. tanto faz se ela tem grana ou não, se ela raspa o sovaco ou não, se ela troca a calcinha todos os dias ou não. daqui pra frente serão questões de cunho puramente psicológico, que nada dirão a respeito do homem delas.

f) encontre as que também curtem sair com as amigas - elas não precisam te chamar pra pagar o maior mico numa pista de dança; ela também terá um lugar só dela para reclamar do relacionamento.

g) desista das psicólogas e das psiquiatras - elas se acham as donas do mundo e sempre estão com a verdade no meio da vagina delas; o inferno está cheio dessas mulheres. vai por mim: experiência própria.

h) goste mais das que não sabem mentir - assim, se ela te trair, você logo perceberá; depois fica mais fácil fingir que você não está sabendo de nada, enrolá-la mais um tempo e dar um desfecho menos desfavorável a si mesmo. é fato: na maioria das separações em que a mulher dá o lance, ela fará de tudo para depreciar o ex.

i) prefira as que não gostam de assistir programas de entrevistas com outras mulheres - desse modo você se livra daquela onda de ideologia feminina impregnando sua casa diariamente.

j) prefira as que fogem da dieta aos domingos, pelo menos à noite - assim você terá sempre um belo pedaço de pizza geladinho no café da manhã de segunda-feira.

aí está a minha listinha Good Fella. tomara que o método sirva para outro homem além de mim.

terça-feira, outubro 24, 2006

olha... só sei que ontem foi foda. toda a organização do dia foi pelos ares e, no fim, postei uma puta mensagem que falhou na hora de mandar. e eu tô puto também.

eu queria escrever alguma coisa para a mulher que amo atualmente, a mulher a quem já devo tanto pelo bem que me fez e a quem tenho dado tão pouca atenção ultimamente. nós sabemos, eu e ela, que ela precisa e merece muito mais do que tem obtido de mim nestas semanas. ontem poderia ser o momento adequado para me apressar em consertar as coisas, mas não foi o que aconteceu.

minha ex-mulher, a segunda em um período de seis anos, surgiu em minha casa repentinamente, afobadíssima, no início da manhã. o caso era realmente para correria: nosso filhinho de três anos precisava de atendimento médico urgente. ele apresentava novamente os sintomas de uma patologia que havia sido tratada a pouco tempo, pegando a todos nós de surpresa. dali em diante ficamos percorrendo ambulatórios públicos, escritórios de convênios, consultórios particulares, para finalmente terminarmos o dia em uma sala de raio-x, onde tudo pareceu se normalizar.

durante o dia, entre uma parada e outra, eu escrevia umas linhas do que me vinha à cabeça. nada que fosse tão pauleira quanto a própria ocasião, mas certamente afetada por ela. digamos que eu tenha sentido uma leve necessidade de fuga (ou de prazer também, por quê não?) diante da adversidade.

- a liberdade e o amor são indivisíveis, atômicos, embora suas naturezas não se confundam entre si. acredito que devamos nos habituar à idéia de que ambos são raros e estão atrelados à novidade. ninguém minimamente saudável ama o passado ao preço de renegar o próprio futuro, assim como se crê que o melhor ainda está por vir.

corre-se o risco de ser pedante ou ignorante ao falar sobre amor ou liberdade, ainda mais hoje em dia, numa época em que conceitualizar as coisas ficou completamente fora de moda. mas agora não me importo.

a vontade de estar agarrado à pessoa amada é um exercício de desmistificação do outro, um processo que avança independentemente da vontade daquele que ama. no fim, o que ama é quem pode vir a encontrar alguma autonomia, a chamada liberdade crítica, frente ao objeto amado.

às vezes falta-nos maturidade para percebermos isto e frequentemente misturamos a mesma sensação com o sentimento de desamor. perdemos parte do processo.

essa é uma das lições que Simone Weil apresentou nos ensaios de "Opressão e Liberdade", nos quais ela traça uma fina comparação entre a experiência amorosa particular e a resistência contra grandes instituições totalitárias, entre as quais o capitalismo liberal.

à moda da casa: a lutas contra o ciúme e contra a injustiça social são as mesmas, suas causas são as mesmas. o ciúme ataca não a liberdade do outro, mas a sua própria à medida que a relação com o outro amado se transforma numa mescla de servilidade e despotismo. -

é claro que havia escrito estas coisas antes do dia acabar. e nem tudo que foi despejado é novo e fresco (automático, como queriam os surrealistas e os beats), existiam coisas bem ruminantes, praticamente já escritas na minha cabeça, apesar do arremate não me seduzir. faltou vocabulário... faltou atender ao rítmo do texto, fragmentá-lo com argumentos e, daí sim, acomodá-lo.

saída pela esquerda, Bionicão! (é... eu sou trintão, Geraldão...) de tudo isso e mais um pouco só sei que meu filho é a pessoa mais importante para mim, e não haveria de ser diferente. ontem à noite lembrei-me dos momentos que me fizeram ficar apaixonado por ele: de quando o vi pela primeira vez no berçário da maternidade, do medo que senti quando o peguei tão pequenino, e semanas depois, quando me senti finalmente humano, ao assistí-lo mastigar suas primeiras papinhas de frutas... essas coisas que jamais imaginei existirem antes, que poderiam ser até sufocantes não fosse a superação do meu temor, me fizeram reconhecer que a natureza no homem é maior do que tudo, maior do que a própria humanidade, e que ter um filho é dar vazão à responsabilidade do homem em fazer continuar o melhor da humanidade na natureza.

no meu caso, transmitir esta condição ao menos para o meu pequenino e, se possível, estendê-lo a mulher que amo. são realizações possíveis e são as coisas que ficam na vida.

quinta-feira, outubro 19, 2006

devo esta minha internação neste blog à autora do Nove de Copas, principalmente. a primeira sugestão foi dela, depois de um longo percurso de e-ms compartilhados, os quais ela chama de cartas. ainda prefiro o tradicional "missiva".

ao Nove de Copas meu muito obrigado! ainda o tenho como um modelo de sítio pessoal, por causa do seu percurso, da sua pequena história e, também, devido ao enorme cuidado que tem ao falar de pessoas. pra mim é próximo do perfeito.

aliás, me deixa rasgar mais um pouco de seda...: a sua mudança, após aquelas quase intermináveis semanas de afastamento, foi estupenda. parabéns! você parece uma borboleta nova que abriu asas.

terça-feira, outubro 17, 2006

meu coração bate por Lupitas tímidas e tenho várias delas enfileiradas na moldura do meu espelho, em casa. aquelas fotografias de cards dos RBDs chegaram às minhas mãos porcausa da criançada no trabalho. coqueluche pré-adolescente.

certa vez me perguntaram se aquilo era bom pra garotada. queriam minha opinião técnica. só pude responder que não havia juventude mais reacionária do que a dos Rebeldes. mentira, há sim, mas só falei aquilo pra ser esperto e desviar o assunto.

mas o que tange é que me apaixonei pela Guadalupita, a moreninha que quase nunca aparece na novelinha, e passei a colecionar as cartinhas de figuras, só dela. barganhei várias, furtei outras, todas das alicinhas de onze anos, fácil: "te dou um pacotinho fechado por essa Lupita" ou "confiscado por bagunçar demais no recreio"; em outros casos coagia as pequenas: "dá-me essa Lupita, já que não gosta dela". ou simplesmente passava a mão leve. tudo razoável.

obtive um discreto sucesso com o estratagema, colecionando ao todo 40 figurinhas da Maitê, a atriz que encarna a personagem da minha obsessão erótica. e estou satisfeito, satisfeitíssimo. o resultado também ficou muito bom: uma fileira horizontal de Lupitas no espelho locado acima do encosto da cama, junto à parede. devo dizer que a sensação de conforto foi verdadeiramente agradável.

não preciso legitimar a coisa com argumentos para sentí-la assim, aprazível, mas é uma questão de simples prazer que o faça: descrevê-la.

pode-se começar a fazer isso pelo conceito que a novelinha desenvolve, aproveitando a capacidade mexicana para dramatizar eventos muito simples, somadas ao conjunto sensual dos novos mangás for export. teremos lá um desfile de beldades masculinas e femininas em trajes escolares típicos europeus, amarfanhados e bonitinhos, beijando muito, trepando pouco (embora sugiram bastante), estudando e trabalhando menos ainda, cuidando das vidas uns dos outros como fossem vendedoras de boutique.

essa é a classificação conceitual e, nesse campo, qualquer menininha de tv pode povoar as necessidades eróticas de rapazinhos pré-concupiscentes.

mas o segundo ponto, o que quero abordar, é do da própria Lupita. um ponto muito mais pessoal. cada uma das meninas (e não são poucas) possui um fole específico de sedução. uma, por exemplo, é arrogante até o talo, o que atrai aos meninos submissos; outra é a sentimental, chamando para si os românticos; há uma que se acha feia e nunca está contente consigo mesma (e ela é a maior gostosa!), o que lhe garante a atenção daqueles que cumprem chegar nas mulheres com um grosseiro psicologismo, do tipo: "você tem coisas dentro de si muito especiais", "nas mulheres prefiro o charme" e "essa sua barriguinha é que me dá tesão".

a Lupita, por sua vez, é a que aparece pouco (e aí terei que declamá-la), daí o ineditismo. acho que ela atrai aos caras meio sufocados pelas mulheres, como eu... é sempre bom ter uma mulher que desaparece vez em quando, e aparece do mesmo jeito que partiu, de repente, porém sem alterar um pingo do seu estado emocional. é uma mulher nobre, que classifica o mundo em parâmetros não muito absolutos, nem tão obsoletos. uma mulher que parece dormir e acordar como tantas que conhecemos, normal, sem silicone ou coxas e bunda robustas, desprovida das feições de uma Zeta-Jones, por exemplo... a Lupita é uma pequena deusa em estado natural (pull-taqui-pariu!!, que brega) e ainda humana. a contradição é o espírito de um bom poema.

obviamente o cabelo liso e preto dela é composto à chapinha italiana, mas tudo bem. não nasci na Nova Zelândia, sou um cara normal também. certos prazeres femininos devem ser tolerados. e gosto de coisas normais. mais cinema que teatro, mais revista que jornal, mais pizza que fondue.

a empregada observou a fileira de Lupitas no espelho e acabou me pedindo uma, para a filha. saquei da gaveta do criado-mudo umas das repetidas e lhe dei, perguntando se era muito estranho que um homem barbado colecionasse aquelas figurinhas como qualquer adolescente. o negócio é que ela me respondeu de modo severo, contudo brilhante: "adolescente não brinca com mulher, ele só quer fazer aquilo que todo mundo sabe que ele quer com ela". e continuou: "seu problema é a moça que vem aqui ficar com você toda terça-feira e que não deve ser nada igual a menina da figurinha".

não sei se entendi bem o que ela queria dizer com "adolescente". não sei se ela se referia aos adolescentes de forma geral ou se ela disse abertamente que eu não cresci como devia. o fato foi que ela botou o dedo no meu tesão. e eu nem sabia que ela sabia da moça de terça... olhos de empregada.

segunda-feira, outubro 16, 2006

... uma outra hora começa.

dava pra ver, dava sim, conforme os pedidos e as insinuações dos amigos blogueiros, escritores, fotógrafos, poetas..., que esta hora chegaria. sem brilho nem nada, porque nada mais medíocre e estático do que um blog acessado por um pequeno grupo, ou por ninguém.

dava pra ver pela curiosidade.

talvez este será um blog só de textos, talvez não. talvez nada mais seja escrito nele. talvez outras coisas dele surjam.

se houver um leitor, por favor, não desanime com a linguagem de jacu.